Ontem, 16 de abril de 2018, completei 39 anos. Nada aconteceu. Tudo seguiu normal como todos os dias. Levantei, tomei banho, escovei os dentes, tomei uma quantidade excessiva de café como sempre, limpei as lentes dos óculos e sai para uma reunião.
Acredito que passei incólume por quase quatro décadas. Uma série de sonhos abortados e arquivados em algum canto da memória deve estar cheia de poeira, esperando que eu a espane e disponibilize no Netflix da vida. Mas, ainda é cedo para reflexões melancólicas e, quer saber, tenho pouca paciência para saudosismos.
Foi uma segunda. Isso quer dizer que não bebi. Na verdade, nem lembrei que deveria beber algo. Afinal o serviço público encarnou em mim, pior do que em João Cabral de Melo Neto e não conseguiria beber mesmo que a cerveja estivesse gelada, convidando-me à degustação. Também, não teve bolo nem festa. Teve um pouco de trabalho, para o natural que é uma segunda-feira.
Afinal o que é fazer 39 anos? É estar pelo menos perto dos 40 anos. Talvez longe dos 20 e com uma certa saudade de quando os trinta e pouco ainda não haviam transposto a linha dos 35. Ter 39 anos é tão comum quanto ter 20, 30 ou até mesmo 40. Não tenho 40, mas tenho amigos com 40 anos. A verdade é que um ano pouca diferença faz.
Um ano para trás ou para frente pouco diz de nós. Somos construídos nas décadas, na longa linhagem de somas de 10 em 10. Se bem que dos 01 ano aos 10 pouco lembramos que valha a pena, dos 10 aos 20 viramos adolescentes e somos chatos demais, achamos que o mundo anda devagar e queremos ficar adultos, dos 20 aos 30 a vida se complica gigantescamente e tudo o que acreditamos deixa de existir, dos 30 aos 40, que ainda não completei, muda mais um pouco e nem sempre achamos que a vida antes era melhor do que agora.
Somos a geração que gosta mais de ter 39 ou 40 anos do que de ter 20 ou 30 anos. Não somos maduros, mas temos uma boa lista de experiências para anotar no caderninho da memória. Os pelos brancos aumentam nos lugares mais inusitados e percebemos que ter cabelos brancos é o problema menor que enfrentamos. Passamos por várias copas, várias eleições, vimos nosso time do coração perder e ganhar, fomos campões, vice, viramos copeiros e jogamos bingo que tanto criticávamos nossos avós.
Passamos a ver aqueles programas cansativos de animais acasalando na tevê e achamos a natureza da África linda. Sonhamos fazer cruzeiros, comprar pacotes de viagem, fazemos compra exigindo o CPF na nota, acumulamos pontos nos smiles, e a palavra aposentadoria surge com seus primeiros acenos. Estamos quase maduros. O exame de próstata passa a nos incomodar e sentimos que algo mais habitará em nosso traseiro, ao menos por alguns breves instantes que fantasiamos e fizemos piadas por longos anos. Sofremos por antecipação.
Passamos a contabilizar alguns amigos, bem poucos sempre, e uma dúzia pelo menos de inimigos. Alguns declarados outros ocultos, sob falsos elogios e sorrisinhos invejosos de nossa vida. Por isso, começamos a ficar como os elefantes que se desprendem da manada, os cães de que se escondem debaixo da cama para morrer e os gatos que somem misteriosamente na calada da noite.
A religião já não é mais uma necessidade e passamos a conversar com Deus em nossa solidão. Esse sempre presente interlocutor quando ninguém nos ouve.
Aos 39 já tomamos antidepressivos, fomos ao psiquiatra e ao psicólogo e alguns amigos confessam quase animados que fazem uso de genéricos do viagra, comprados em Salto del Guairá. Alguns amigos já foram internados, fizeram cateterismo, tiraram um câncer, colocaram os filhos na faculdade e viram seus pais partirem. Outros já choraram a juventude das filhas e o voo dos filhos nos braços de uma menina também chorada em algum lugar.
Ter 39 anos é estar vivo e querer mais vida. Ficamos animados com o aumento de expectativa de vida e vemos programas de saúde para termos uma velhice saudável. Tornamo-nos fitness, passamos a admitir o divórcio, a solidão e até mesmo um novo casamento. Sentimos que a vida pulsa em cada segundo e compramos livros, programamos viagens e acrescentamos alguns sonhos, porque até esses envelhecem.
Aos 39 não entendemos nossa pressa dos 20 e compreendemos porque a maioria das pessoas gostaria de voltar aos 20 com a cabeça dos 39. Já não cantamos mais Sérgio Reis, dizendo que panela velha é que faz comida boa, porque passamos a ser a panela. Ter 39 anos é ser Tiozão ou tiozinho, que fica feliz quando alguém diz: "nossa, você não parece ter 39 anos". Que pode ser uma cantada ou um consolo diante de nossa idade. Ter 39 anos é apenas ter um número acrescido à nossa cronologia, que segue indiferente aos registros de cartório e da identidade que apresentamos sempre que nos exigem a prova de que somos nós mesmos. Assim, foi o primeiro dia de meus 39 anos. Rumo aos 40.
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