Mãe é assim, igual pirilampo,
ilumina as madrugadas,
te vigia mesmo ao longe,
é farol de porto,
sente sem ver, na pura imaginação,
e se angustia sem saber o porquê.
Mãe é ser divino,
olhamos as estrelas
e acreditamos em sua eternidade.
Vivemos sem olhá-las [as mães]
porque temos a certeza de que sua
visão, embora curta pelo tempo
ainda nos vê, só de fantasiar.
Mãe é assim, não devia ter fim,
é doce que às vezes azeda,
mas compensa em desvelos e cuidados.
Mãe é assim, atenta aos agitos
de nossas inquietações.
Mãe não deveria caber
em definição de dicionários,
foge à filosofia do saber humano.
Mãe é assim, infinita; mas tem fim.
Pena que fechei os olhos a essa
realidade tão certa, tão definitiva;
se soubesse que perderia,
como deveria saber de tantas outras coisas,
pediria que ela ficasse [mesmo que por um instante]
um pouquinho mais perto de mim.
sábado, 12 de novembro de 2016
domingo, 6 de novembro de 2016
Sobre o amor e seus problemas na sociedade de consumo
Temos a necessidade de amor, de sermos adorados o tempo todo. Somos resultado de um mundo de consumo, no qual, nós mesmos, tornamo-nos produto. Nunca estivemos tão carentes quanto nos dias atuais. A redes sociais dão a impressão de que temos amigos, seguidores; curtidas, emoticons, selfies e postagens no Instagram e no Facebook e seus correlatos é parte do nosso cotidiano desde o café da manhã. Mas por que todo esse desejo de exposição?
Em um mundo que as pessoas são medidas pelo consumo, pelas roupas que vestem, pelas jóias, pelas etiquetas da camisa ou da calça, pelo relógio, pelos lugares que frequentam, nós também, em certa medida, viramos produtos. Estamos expostos em uma estante virtual aos olhos dos demais consumidores.
É comum ouvir comentários de que fulano é feio demais para uma determinada moça, que um rapaz é um partidaço e não se entende por que ele sai com uma menina tão insossa. De que viajamos por uma companhia aérea de segunda, que o bar que fomos é pé sujo. Todos esses comentários expressam que as pessoas se têm e se veem com um determinado valor, que nos abre as portas de alguns lugares e espontaneamente nos fecham as portas de outros.
Para ter valor de mercado é preciso propaganda, exposição. A vida de solteiro, viúvo ou divorciado exige academias, bares, restaurantes, baladas caras. A vida disponível exige de seu produto a valorização no mercado. Vai-se à padaria: check in; ao bar: check in; à academia: check in; à balada: chek in; ao aeroporto, de preferência internacional: check in. Pensar que antigamente, check in era palavra ouvida em hotel chique.Temos de mostrar como bons produtos circulam por lugares maravilhosos.
Todas essas demonstrações de sociabilidade escondem a solidão do homem e a necessidade de amor que ele tem. Precisamos de amor, de aceitação. Como é bom ser amado e não se sentir mais sozinho no mundo. No entanto, para ser amado, é preciso ser desejado. Temos de passar pelo desejo primeiro, pela cobiça, atrair os outros pelos olhos. Os confeiteiros foram os primeiros profissionais a perceber que comemos também pelos olhos.
O desejo conduz ao consumo. Contratamos personal trainer, escolhemos a academia cara da cidade, compramos as roupas de academia nas lojas das pessoas consideradas chiques, portanto, estão na categoria de desejáveis, logo, como seria bom amar uma dessas pessoas. Amor não existe antes do desejo. O amor à primeira vista não existe há muitos anos. Manuel Bandeira há décadas dizia: deve ser bom gostar de uma feia, mas era fraco demais para isso. E esse modo de pensar vale para as mulheres também. Sapato feio e velho é bom para ficar em casa, para sair não dá. Expressões de um mundo que se devora pelo desejo travestido, posteriormente, em amor. José de Alencar faz Aurélia Camargo cotar um marido no mercado. Sinal que sempre fomos mercadorias, o capitalismo só ressaltou nossa necessidade de consumir, mas também, sermos consumidos.
Embora o mundo do consumo esteja a todo o vapor, ele não supriu a necessidade do homem em ser amado. Todos desejam no fundo ter amor, ter alguém, ter um amigo ou amiga em que haja amor de verdade. Somos a sociedade do ter, esse ter que indica nossa necessidade de posse nunca esteve tão presente. E ter significar comprar, consumir. O amor também se capitalizou.
A redes de relacionamentos para solteiros cresce cada dia mais. São inúmeros perfis e sites que oferecem planos do básico ao premium, clientes bronze, clientes prata e clientes gold, tudo para entrar na fila do embarque por um amor e uma vida de menos solidão. O amor revelou que somos sozinhos. Para preencher a lacuna precisamos de um amor. Para tanto, temos de nos tornar desejáveis.
Para virar o produto que precisamos, enfrentamos barbearias retrôs, salões de beleza, sessões de massagem, psicoterapia, conselheiros amorosos, personais de moda, academias, alimentação fitness, sucos detox, massagens linfáticas, tudo para embelezar a lataria desse carro que envelhece a cada dia.
Tornamo-nos o produto que precisa ser reciclado se quiser ser desejado e, consequentemente amado. Mas, precisamos de amor em todos os sentidos. Compramos tudo o que nos alcança para obter essa dádiva dos céus, esse prêmio de loteria que a cada dia se torna mais difícil de ganhar. O ápice de um solteiro é colocar no facebook: "Em um relacionamento sério com...." e como faz falta a foto do lado. Por isso, lutamos para preenchê-la, para reduzir a solidão em que vivemos.
Ter amor é estar acompanhado nesse mundo em constantes mudanças. Nunca o homem se isolou tanto e ao mesmo tempo desejou tanto ter alguém que o compreenda. São as aporias da pós-modernidade, ou seja lá do que queiram chamar o tempo em que vivemos. Ainda somos seres humanos. Apenas fomos contaminados pelo consumo. E esse poder de compra também trouxe a ilusão de que podemos comprar um amor. Para tal tarefa, também nos tornamos produto, porque nesse mercado ambos tem de ser desejáveis, financeira ou fisicamente. Fazer um par, ter uma compatibilidade, ter um coraçãozinho de possível relacionamento das redes sociais é o reflexo de nosso desejo de estar acompanhados. Mas não só acompanhados: ter amor, amor é essencial para a vida e sem ele não vivemos ou vivemos mal. A decepção está em que não podemos comprá-lo, ainda não. Assim, cada dia mais investimos em nós, produtos de uma confeitaria que tem de se renovar a cada dia, afinal, o outro também deve nos desejar. O amor virá depois, após o desejo, após a aquisição.
Em um mundo que as pessoas são medidas pelo consumo, pelas roupas que vestem, pelas jóias, pelas etiquetas da camisa ou da calça, pelo relógio, pelos lugares que frequentam, nós também, em certa medida, viramos produtos. Estamos expostos em uma estante virtual aos olhos dos demais consumidores.
É comum ouvir comentários de que fulano é feio demais para uma determinada moça, que um rapaz é um partidaço e não se entende por que ele sai com uma menina tão insossa. De que viajamos por uma companhia aérea de segunda, que o bar que fomos é pé sujo. Todos esses comentários expressam que as pessoas se têm e se veem com um determinado valor, que nos abre as portas de alguns lugares e espontaneamente nos fecham as portas de outros.
Para ter valor de mercado é preciso propaganda, exposição. A vida de solteiro, viúvo ou divorciado exige academias, bares, restaurantes, baladas caras. A vida disponível exige de seu produto a valorização no mercado. Vai-se à padaria: check in; ao bar: check in; à academia: check in; à balada: chek in; ao aeroporto, de preferência internacional: check in. Pensar que antigamente, check in era palavra ouvida em hotel chique.Temos de mostrar como bons produtos circulam por lugares maravilhosos.
Todas essas demonstrações de sociabilidade escondem a solidão do homem e a necessidade de amor que ele tem. Precisamos de amor, de aceitação. Como é bom ser amado e não se sentir mais sozinho no mundo. No entanto, para ser amado, é preciso ser desejado. Temos de passar pelo desejo primeiro, pela cobiça, atrair os outros pelos olhos. Os confeiteiros foram os primeiros profissionais a perceber que comemos também pelos olhos.
O desejo conduz ao consumo. Contratamos personal trainer, escolhemos a academia cara da cidade, compramos as roupas de academia nas lojas das pessoas consideradas chiques, portanto, estão na categoria de desejáveis, logo, como seria bom amar uma dessas pessoas. Amor não existe antes do desejo. O amor à primeira vista não existe há muitos anos. Manuel Bandeira há décadas dizia: deve ser bom gostar de uma feia, mas era fraco demais para isso. E esse modo de pensar vale para as mulheres também. Sapato feio e velho é bom para ficar em casa, para sair não dá. Expressões de um mundo que se devora pelo desejo travestido, posteriormente, em amor. José de Alencar faz Aurélia Camargo cotar um marido no mercado. Sinal que sempre fomos mercadorias, o capitalismo só ressaltou nossa necessidade de consumir, mas também, sermos consumidos.
Embora o mundo do consumo esteja a todo o vapor, ele não supriu a necessidade do homem em ser amado. Todos desejam no fundo ter amor, ter alguém, ter um amigo ou amiga em que haja amor de verdade. Somos a sociedade do ter, esse ter que indica nossa necessidade de posse nunca esteve tão presente. E ter significar comprar, consumir. O amor também se capitalizou.
A redes de relacionamentos para solteiros cresce cada dia mais. São inúmeros perfis e sites que oferecem planos do básico ao premium, clientes bronze, clientes prata e clientes gold, tudo para entrar na fila do embarque por um amor e uma vida de menos solidão. O amor revelou que somos sozinhos. Para preencher a lacuna precisamos de um amor. Para tanto, temos de nos tornar desejáveis.
Para virar o produto que precisamos, enfrentamos barbearias retrôs, salões de beleza, sessões de massagem, psicoterapia, conselheiros amorosos, personais de moda, academias, alimentação fitness, sucos detox, massagens linfáticas, tudo para embelezar a lataria desse carro que envelhece a cada dia.
Tornamo-nos o produto que precisa ser reciclado se quiser ser desejado e, consequentemente amado. Mas, precisamos de amor em todos os sentidos. Compramos tudo o que nos alcança para obter essa dádiva dos céus, esse prêmio de loteria que a cada dia se torna mais difícil de ganhar. O ápice de um solteiro é colocar no facebook: "Em um relacionamento sério com...." e como faz falta a foto do lado. Por isso, lutamos para preenchê-la, para reduzir a solidão em que vivemos.
Ter amor é estar acompanhado nesse mundo em constantes mudanças. Nunca o homem se isolou tanto e ao mesmo tempo desejou tanto ter alguém que o compreenda. São as aporias da pós-modernidade, ou seja lá do que queiram chamar o tempo em que vivemos. Ainda somos seres humanos. Apenas fomos contaminados pelo consumo. E esse poder de compra também trouxe a ilusão de que podemos comprar um amor. Para tal tarefa, também nos tornamos produto, porque nesse mercado ambos tem de ser desejáveis, financeira ou fisicamente. Fazer um par, ter uma compatibilidade, ter um coraçãozinho de possível relacionamento das redes sociais é o reflexo de nosso desejo de estar acompanhados. Mas não só acompanhados: ter amor, amor é essencial para a vida e sem ele não vivemos ou vivemos mal. A decepção está em que não podemos comprá-lo, ainda não. Assim, cada dia mais investimos em nós, produtos de uma confeitaria que tem de se renovar a cada dia, afinal, o outro também deve nos desejar. O amor virá depois, após o desejo, após a aquisição.
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