Abri a página de teu sexo
e escrevi nela o meu nome,
revelação e salvação
no Livro da Carne.
Enraizei em tua pele o meu corpo
e o teu ventre gerou um ser
a partir do sêmen quente
que irrigou tuas entranhas
e descobriu o óvulo
da Árvore da Vida.
Enquanto morria no teu corpo,
afinal todo gozo é um princípio de morte,
alcançava a eternidade do fruto proibido.
Meus olhos se abriram: vi o bem e o mal
em teu sexo aberto, qual flor rubra
a irrigar a pétala de meu cadáver
deitado no frio jazigo
que visitaste numa manhã de domingo.
E fez-se a morte e a vida,
princípio e fim
em um único coito de redenção.
quinta-feira, 26 de maio de 2016
Penso as formas tristes
das alegrias interiores
e como se desfazem
em pequenas transições diárias.
Oscilo entre o choro e o riso
de uma lembrança inalável.
Insuportável é o cheiro do passado
no canto do guarda-roupa guardado.
A traça não roeu a veste
e visto essa camisa de força
atado diante do nada
que é o tudo da recordação.
das alegrias interiores
e como se desfazem
em pequenas transições diárias.
Oscilo entre o choro e o riso
de uma lembrança inalável.
Insuportável é o cheiro do passado
no canto do guarda-roupa guardado.
A traça não roeu a veste
e visto essa camisa de força
atado diante do nada
que é o tudo da recordação.
quarta-feira, 18 de maio de 2016
E quando penso na Eternidade
ela me assusta.
Esse tempo inexorável de vazios
congelará para sempre minhas dores.
O que fazer? Se a dor que tenho
não cabe na vida,
como carregá-la comigo
para o infinito?
Não, não tenho medo da morte,
daquela que nos retorna ao pó,
tenho medo dessa maldição
chamada vida eterna,
porque ela me condena
a me estender além do que posso suportar.
terça-feira, 17 de maio de 2016
Cantarola (cantiga infantil)
Porque as águas do mar
desceram para a praia
brincar com as areias
com as areias do mar.
Por que as águas do mar
desceram para praia
brincar com as areias,
com as areias de amar.
Porque as águas do mar
desceram para a praia
armando as redes,
as redes para pescar.
Porque as águas do mar
desceram para a praia
levando as teias,
as teias de amar.
sábado, 7 de maio de 2016
Vivo dessas ignorâncias
soltas por aí,
das pequenas palavras,
das miudezas que constroem
verdadeiras fortalezas.
Entro no entrave dos agouros
na esperança de abreviar
as tristezas e antecipar
as consequências de um medo
do porvir que é apenas sonho.
Tenho receio das palavras
ditas e não-ditas
no encalço de minhas costas.
Feliz foi o Adão dos primeiros
dias no Jardim do Éden,
quando foi máquina
de etiquetar o mundo
e não precisava dar satisfação
de suas palavras, só suas
narcisicamente belas e suas.
O mistério da solidão,
da vida, da morte,
do tempo que passa
e não volta mais.
As pessoas deixadas
no caminho, nas encruzilhadas,
nos becos dos desentendimentos.
A saudade que não cessa
compõe esse mistério
da ausência, da dor
presente, do amor ausente.
E como é grande
o medo do futuro
essa expectativa baça
construída sobre quimeras.
Tudo se torna escuro
diante da imensidão
das incertezas ramificadas.
quarta-feira, 4 de maio de 2016
Porque eu gritei
minh'alma se partiu
ao meio, uma fenda
se abriu no horizonte
e uma parte de mim
se perdeu na escuridão.
O grito parou o coração
interrompeu a vida
levou uma porção de mim
para o além,
para o inferno das ausências.
Condenei-me ao vácuo
de um ventre estéril.
Aguardo agora o momento
de fetalmente aconchegar-me
ao útero úmido da terra.
Dela brotará uma flor
de riso amarelo
prenhe de timidez
diante do céu azul da manhã.
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