domingo, 24 de fevereiro de 2013

Marcas da cultura

O ano passado estive em Foz do Iguaçu para um evento, o qual nem pretendo mencionar de tão horrível que foi.

No entanto, a cidade me suscitou sensações estranhas que ficaram atoladas em minha mente até hoje. Uma delas foi ver mulheres com lenços na cabeça, vestidas à moda muçulmana, se é que assim se pode dizer, mas que com certeza há lojas vendendo muitos desses adornos para enfeitar ou ocultar os pensamentos dessas jovens, maduras e velhas senhoras que passam pelas ruas de Foz.

Curioso saber que as mulheres, na sua eterna imagem de progenitora, continuam parindo suas culturas em solos diferentes. São elas quem carregam no corpo as marcas de uma nação, de uma fé, de uma religião que nem sequer olha para o sexo feminino, que na verdade abjeta-o ou encara com um mal necessário à procriação.

Seus companheiros se ocidentalizaram. Fácil vê-los pelos shoppings caminhando de calça jeans, camiseta de gola pólo, comendo em restaurantes árabes ou sírios, olhando e cobiçando, criticando com a boca e comendo com os olhos as mulheres ocidentais em seus vestidos curtos, tomara-que-caia, shortinhos e blusinhas a desenhar seus corpos pela passarela das lojas infinitamente desejadas.

Porém, ardam elas(as ocidentais) no lago de fogo, enquanto suas poderosas e majestosas mães de família e parturientes em eterna dor de parto flanem pelas ruas de Foz a desfilar uma cultura que os homens podem ocultar pelas suas vestes, mas as mulheres não. A elas está fadada a dor de parir a cultura muçulmana pelas ruas, ocultando seus belos rostos, seus olhos  de amor em tempestade, seus reboliços de coração guardados no peito.

Talvez, por isso, Deus as tenha dotado de olhos tão grandes e negros; belos olhos que são a única janela que podem usar para invejar o mundo quase livre dos ocidentais. Pode-se fechar-lhes o coração, trancafiar seus corpos em modelos que assexuados, mas não podem cegar seus belos, grandes olhos de saudade de uma vida que nunca tiveram.

Será que a beleza dessas mulheres, para seus maridos, está no olhar furtivo que têm de lançar pelos cantos para ver o mundo e as pessoas que passam? Será que há nesses homens um secreto prazer em saber que elas olham, desejam, mas estão tão acuadas que só lhes resta espreitar pelos enormes olhos negros. Será que há um voyerismo nesses homens em ver o secreto sofrimento de suas esposas a brilhar em seus olhos de abismo?

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