quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Outras margens

Prometeu a voz divina

que da terra fluiria leite e mel,

mas o que fazer desta mistura,

se vivo de outras águas

e tenho a maldição de ser humano?

Queima-me a pele de outro corpo

e busco nas tuas águas

apagar a chama que me consome.

Tornei-me pastor de teus olhos

e com cânticos ao pé do ouvido

guiei-te mansamente às margens de outro rio.

Ali, sem disfarces, despimos as vestes

e pondo a nu a humana carnatura

descobrimos a geografia das águas.

Não, não nos importamos com o pó

que um dia serão nossos corpos.


  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...