Chegar aos 40 anos não é fácil. É a idade em que nossos ídolos da infância começam a desaparecer. Eles morrem sem dizer adeus, somem das telas, dos jornais, das playlists de música, sendo que alguns ainda estão preservados em nossas estantes no velho e bom vinil, que agora voltou à moda.
Hoje, dia 07 de janeiro, não foi diferente, mais um dos meus pilares da infância desapareceu: Genival Lacerda. Lembro-me de ser bem pequeno quando ele aparecia no Chacrinha. Genival usava sandálias de couro, calça branca e camisa colorida, além de seu inseparável chapéu.
As músicas de Genival incendiavam a criançada. Quem nunca se divertiu com "Severina Xique Xique"? E quem nunca descalço, sim, naquela época as crianças ainda andavam com os pés no chão, rodou ao som de "Ele está de olho é na boutique dela", dançando mesmo com o irmão mais velho ou mais novo pela sala.
As músicas com duplo sentido ainda não eram politicamente incorretas e todos se divertiam ao som do forró na velha Telefunken preto e branca, com tela colorida na frente. É meus amigos, nem todos tiveram televisores coloridos em casa logo que a novidade surgiu. Em muitas casas, o velho televisor de botão seletivo reinava. Nem por isso, éramos menos alegres.
Era tempo de colocar o toca-fitas e ligar na rádio pedindo ao locutor uma música que era para gravar. Atentos, todos esperavam a voz dizer que podia soltar o play. E, ali, a felicidade reinava, trocávamos fitas, emprestávamos e devolvíamos os cassetes que animavam nossos fins de tarde.
Nem todos têm a honra de que no dia de sua morte cantem, se alegrem, ouçam suas músicas, ensaiem passos de forró e cantem: "Mati o véio, mati o véio". Assim, penso que deveria ser o dia de minha morte, com muito canto e alegria, nada de choros ou tristezas, mas sim, que, cada um, trouxesse consigo um canção no coração.
Viva Genival Lacerda, a alegria de muitos corações por esse Brasil a fora.