Podia dizer que houve sol naquela manhã. Mas, chovia e fazia uma temperatura amena. Não vou dizer que me lembro daquele dia. Fiquei com as informações que me contaram. Embora tivesse certeza de que o céu estava azul e o sol brilhando para iluminar meu primeiro dia de aula, as histórias contadas por meus pais desmentem o que o coração guardava.
Incomoda-me ainda saber que não me lembro de meu primeiro dia de aula. Isso de ficar com as memórias alheias é um vasculhar que nunca termina.
Consta que chorei, não muito. Mostrei valentia frente àquilo que também desejava. Era o medo lutando contra a vontade. Venceu a vontade. Fiquei na escola e enfrentei aqueles que seriam, mais adiante, meus amigos.
Meus pais também deviam estar ansiosos. Pelo modo como me adaptei à escola, acho que souberam disfarçar bem, pois me passaram a segurança necessária para enfrentar os novos desafios de minha ainda curta vida.
Era uma saudade, um apertar o peito. Naquelas horas que me divertia em sala de aula, sempre estava presente a saudade, a expectativa, o medo de que não me buscassem, mas tudo se desfazia logo, feito nuvem leve no céu.
Aprendi a gostar da professora e logo a sentia mais próxima e um porto seguro quando o medo fazia minhas mãos suarem. Não demorou a sentir por ela também algo próximo do que posso chamar de saudade. Ela era o ponto de equilíbrio naquelas horas ausentes de meus pais.
Não me lembro bem, mas sei que logo comecei a me sentir em casa mesmo estando na escola. Reconhecia corredores, portas, rostos e os amiguinhos, que antes eram pequenos corpos à minha frente, ganharam nomes e feições mais nítidas. Passei a nomeá-los com desenvoltura e a contar histórias sobre eles. Faziam parte de meu cotidiano.
Nascia em mim o sentimento de estar no mundo. Ao mesmo tempo surgia a decepção de que no meu mundo houvesse outras pessoas que ocupariam um lugar no meu coração além de meu pai e de minha mãe. Era pouco ainda, mas crescia e a porta da escola que entrei, abriu para mim as portas de um mundo sem volta.