sábado, 29 de fevereiro de 2020

Primavera

Não sei quando minha vida criou espinhos,
mas sei o momento em que te encontrei
e brotaram flores em meus ouvidos.

Meus pés teceram raízes
no meio do caminho.

Teu olhar de manhã nova
teus olhos de brisa fagueira
se fixaram em minhas retinas.

Se fosse inverno
podaria meus galhos de ti,
mas era primavera
e fui ficando
florescendo sem atentar
no inevitável murchar das flores.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Escola

Podia dizer que houve sol naquela manhã. Mas, chovia e fazia uma temperatura amena. Não vou dizer que me lembro daquele dia. Fiquei com as informações que me contaram. Embora tivesse certeza de que o céu estava azul e o sol brilhando para iluminar meu primeiro dia de aula, as histórias contadas por meus pais desmentem o que o coração guardava.

Incomoda-me ainda saber que não me lembro de meu primeiro dia de aula. Isso de ficar com as memórias alheias é um vasculhar que nunca termina.

Consta que chorei, não muito. Mostrei valentia frente àquilo que também desejava. Era o medo lutando contra a vontade. Venceu a vontade. Fiquei na escola e enfrentei aqueles que seriam, mais adiante, meus amigos. 

Meus pais também deviam estar ansiosos. Pelo modo como me adaptei à escola, acho que souberam disfarçar bem, pois me passaram a segurança necessária para enfrentar os novos desafios de minha ainda curta vida. 

Era uma saudade, um apertar o peito. Naquelas horas que me divertia em sala de aula, sempre estava presente a saudade, a expectativa, o medo de que não me buscassem, mas tudo se desfazia logo, feito nuvem leve no céu. 

Aprendi a gostar da professora e logo a sentia mais próxima e um porto seguro quando o medo fazia minhas mãos suarem. Não demorou a sentir por ela também algo próximo do que posso chamar de saudade. Ela era o ponto de equilíbrio naquelas horas ausentes de meus pais. 

Não me lembro bem, mas sei que logo comecei a me sentir em casa mesmo estando na escola. Reconhecia corredores, portas, rostos e os amiguinhos, que antes eram pequenos corpos à minha frente, ganharam nomes e feições mais nítidas. Passei a nomeá-los com desenvoltura e a contar histórias sobre eles. Faziam parte de meu cotidiano.

Nascia em mim o sentimento de estar no mundo. Ao mesmo tempo surgia a decepção de que no meu mundo houvesse outras pessoas que ocupariam um lugar no meu coração além de meu pai e de minha mãe. Era pouco ainda, mas crescia e a porta da escola que entrei, abriu para mim as portas de um mundo sem volta. 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

O amor pode esperar

Ah....amor,
não me culpes por querer só teu corpo,
tudo começa nessas curvas
nesses trejeitos convidativos.

O Amor vem depois,
por ora quero tua boca,
teus lábios bem feitos
teus olhos molemente mornos.

Ah...amor,
deixe o Amor para depois
por ora somos corpos
e eles dançam tão bem.

Para que filosofias onde há matéria,
se temos os corpos
e se o Amor pode ficar para depois.....

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...